Você não precisa guardar tudo
No Brasil 17% das pessoas já pensaram em algum momento tirar a própria vida. Nosso país é o 8° no mundo em número absoluto de suicídio. Segundo a Organização Mundial da Saúde é possível sim prevenir o suicídio, se reconhecido os fatores de risco presentes. Nós juntamente com a psicóloga clínica, Vanessa Ximenes (CRP 08-21384) iremos informar como uma pessoa pode detectar algum desses fatores em algum amigo ou familiar.
Já está comprovado que o indivíduo que tem tentativas de tirar a própria vida ou que chega a de fato se suicidar dá sinais que de vem pensando ou planejando essa conduta. Pensamentos e sentimentos de fracasso na vida, desesperança, e aprisionamento (pessoa sente que não há mais saída nem solução para o que vive) são indicativos de que algo não vai bem. Esses sentimentos e pensamentos podem aparecer em frases como “eu tenho vontade de sumir”, “eu não aguento mais”, “eu não sirvo para nada”, “eu poderia estar morto”, “os outros vão ser felizes sem mim”, “eu sou um peso para os outros”, “eu não posso fazer nada”, “minha vida não tem mais sentido”.
Algumas condições que aumentam as chances de suicídio são a vivência de um sofrimento tido como intolerável, tentativas prévias de suicídio, transtornos mentais (como transtornos de humor e de personalidade), acesso a meios letais, ambiente familiar hostil, uma capacidade reduzida de enfrentamento de situações adversas e uma forte intenção de parar a própria dor. Nessas condições, o indivíduo pode apresentar irritação ou agitação (principalmente em crianças e adolescentes), tristeza, baixa autoestima, isolamento, solidão, autodesvalorização, exposição frequente a situações de maior risco (como dirigir em alta velocidade). São também sinais de alerta a pessoa se desfaz de itens ou animais que ela gosta muito (por exemplo, doar o animal de estimação), deixar de praticar atividades que antes eram prazerosas, se despedir definitivamente das pessoas, e deixar de fazer planos.
Existem grupos de pessoas que apresentam maior risco ao suicídio, por estarem mais expostas a condições geradoras de estresse e intenso sofrimento emocional. Esses grupos são adolescentes, idosos, população LGBTI+, negros, indígenas, indivíduos que tem um consumo abusivo de drogas, pessoas desempregas, e profissionais da segurança (policiais, agentes penitenciários, e outros).
Se você suspeita que a pessoa esteja vivenciando ideações suicidas (que são pensamentos de tirar a própria vida), você pode perguntar: “você está vivenciando sentimentos suicidas?” ou “você tem pensado em tirar a própria vida?”. Se a resposta for sim, busque identificar quando as ideações suicidas começaram, se mais alguém sabe, e se a pessoa sabe onde e quando buscar ajuda.
Oriente para que ela busque ajuda profissional e encoraje a agendar uma sessão com um psicólogo e um psiquiatra. Acompanhar a pessoa a essas consultas é uma maneira de ajudar. É importante também retirar do alcance do individuo com ideação suicida meios letais, como armas, objetos perfurantes, remédios, agrotóxicos, pesticidas, grandes alturas.
Se o indivíduo já tem um plano para acabar com a própria vida, não o deixe sozinho. Busque ajuda de um médico, e leve a pessoa a um serviço de saúde mental. Além disso, converse sobre o que você está vivendo com alguém que confia (como um familiar, um amigo), pois lidar com o suicídio é bastante complexo e você não precisa fazer isso sozinho.
É importante ressaltar que existem alguns mitos que envolvem o suicídio, como: (a) quem fala sobre suicídio só quer chamar atenção, (b) suicídio acontece de repente e sem sinais, (c) falar sobre suicídio encoraja a praticar esse ato, (d) quem se suicida quer se matar, (e) quando a pessoa melhora ou sobrevive ao suicídio, ela está fora de risco.
Muitos que falam sobre o suicídio podem planejar e chegar ao ato em si, por isso não podemos menosprezar os sinais de alerta que sempre estão presentes. Além disso, conversar sobre esse tema é uma forma de acolher a pessoa em sofrimento e possibilitar que ela procure por ajuda e dê um novo rumo à própria vida, pois nem sempre quem se suicida quer se matar, e sim, quer aliviar uma dor intensa, ou acredita que o suicídio é a única forma de resolver os problemas que vive. Mesmo diante de sinais de melhora, ainda é preciso estar próximo ajudando a pessoa que apresenta ideações ou tentativas de suicídio, pois ao melhorar, ela pode “tomar coragem” para tirar a própria vida.
Caso você esteja passando por uma situação saiba com quem se abrir. Inicialmente, pode ser com uma pessoa de confiança, que poderá ouvi-la atentamente e orientá-la a buscar por ajuda profissional de um psicólogo e um psiquiatra. Caso alguém te procure falando sobre ideações suicidas, evite reações de choque ou susto (por exemplo, “Meu Deus! Não acredito! Vira essa boca pra lá!”). Evite também diminuir ou invalidar os sentimentos da pessoa (“Isso é besteira, logo passa!”, “Não entendo isso”, “Você tem tudo na vida”, “Seja forte!”), ou usar expressões de cunho religioso (“Se apega em Deus que vai passar”, “Isso é falta de fé”). Essas condutas dificultam que aquele que está em sofrimento se abra e fale sobre a própria dor.
Busque encontrar um lugar mais tranquilo para conversar, ouça ativamente ao invés de falar sobre você mesmo e tente não resolver os problemas da pessoa. Nesse primeiro momento, o importante é ouvir e direcionar a pessoa a buscar ajuda especializada.
Saiba também que apenas não guardar os problemas para si e falar sobre não basta para cura da depressão. É necessário que exista alguém para de fato escutar e auxiliar a pessoa que está em sofrimento. A disponibilização de canais de ajuda 24 horas, como o CVV (Centro de Valorização a Vida – disque 188) pode ser um passo inicial para que a pessoa consiga lidar com a dor que sente. Além disso, a psicoterapia é também recomendada, pois o psicólogo oferece uma escuta especializada e pode contribuir para a adoção de estratégias de enfrentamento que visem ampliar a capacidade da pessoa de lidar com a frustração e reduzir a tensão causada por situações estressoras.
O Meu Espaço Self Storage apoia a Campanha Setembro Amarelo realizada pela ABP, Associação Brasileira de Psiquiatria, em parceria com o CFM, Conselho Federal de Medicina.
Lembre-se você não precisa guardar tudo.
Material elaborado com base na Cartilha “Orientações para a atuação profissional frente a situações de suicídio e automutilação” / Organizado pela Comissão Especial de Psicologia na Saúde do CRP 01/DF. Brasília: CRP, 2020, e na matéria “Como ajudar alguém que sofre de ideações suicidas?”, de Tiago Zortea, disponível em https://www.comportese.com/2016/12/como-ajudar-al...